segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Crítica do filme Garota Exemplar

Metalinguagem da Ilusão

Parafraseando uma citação de Ludwig Feuerbach que se encontra no livro sociedade do espetáculo de Guy Debord diz o seguinte “E sem dúvida o nosso tempo (...) prefere a imagem á coisa, a cópia ao original a representação á realidade, a aparência, ao ser... Ele considera que a ilusão é a sagrada, e a verdade é profana.” Sendo representativo do filme Garota Exemplar, de David Finsher.

É visto que o cinema contemporâneo e consequentemente a sociedade pós-moderna se apropria cada vez mais da imagem, não como forma realística, mas sim a ilusão desejada a todo instante e David Fisher acrescenta esses elementos no filme surpreendente e eficaz.

O filme conta a história de Amy Dunne que desaparece no dia do seu aniversário de casamento, deixando o marido Nick em apuros. Ele começa a agir descontroladamente, abusando das mentiras, e se torna o suspeito número um da polícia. Com o apoio da sua irmã gêmea, Margo, Nick tenta provar a sua inocência e, ao mesmo tempo, procura descobrir o que aconteceu com Amy.

Roteiro bem escrito pela própria autora do livro homônimo, pois é suave e perspicaz ao mesmo tempo. O filme brinca com as nossas escolhas e a forma como lidamos com a história. É uma metalinguagem do cinema com a ilusão, é nudez da ilusão na própria arte que produz ela mesma.

Atuações estão bastante convincentes, destaque para os atores principais Ben Affleck por Nick Dune onde conseguiu transmitir com sagacidade as nuances do personagem frente aos vários percalços da trama e a Rosamund Pike por Amy Dune que se revela ao avançar da narrativa cinematográfica.

Amarrado tecnicamente o seu destaque é o ethos da obra cinematográfica, pois o filme traz séries de indagações sobre imagem, ilusão, pontos de vistas, mídia, fama e outras questões contemporâneas a partir duma história é apesar de bem trabalhada é utilizada frequentemente por hollywood. Porém que nada desmerece um bom filme de David Finsher.

O filme é um hibrido de entretenimento com informação, é a mistura do reflexivo e do hedonismo. Quer algo mais pós-moderno que isso?


NOTA 8,0

FICHA TÉCNICA

Nome Original: Gone Girl
Direção: David Fincher
Roteiro:  Gillian Flynn (romance e roteiro)
Gênero: Drama/suspense
Origem: Estados Unidos
Duração 144 minutos
Ano: 2014

Trailer legendado


terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Critica do filme Ninfomaníaca


PRAZER?


O que dizer de um dos cineastas mais provocantes do cinema atual? Não sei afirmar, mas “Ninfomaníaca” é daqueles filmes que entra na sua cabeça, brinca com seus sentidos e ainda deixa com gostinho de quero mais. Ainda que dividido em duas partes o longa mostra como a busca pela satisfação individual pode acarretar consequenciais impactantes tanto pessoais quanto coletivas.

A dificuldade para analisar um filme que está incompleto é significativo sendo agravado pela censura que a obra passou pelos produtores “tirando o excesso de pornografia”, apenas restando para o espectador esperar pela segunda parte que completará e que dará sentido para o longa de Lars Von Trier. O filme conta a história de Joe (Charlotte Gainsbourg) uma mulher de 50 anos que decide contar a um homem mais velho (Stellan Skarsgard) sua história pessoal. Ela relata suas experiências ao longo de oito períodos da sua vida, marcados por diversos encontros e incidentes.

Ao se observar os detalhes cinematográficos da obra, visualizamos um dos pontos fortes do filme, o elemento cênico. Encabeçado pela exuberante e, sobretudo talentosa Stancy Martin que interpreta Joe em sua fase mais jovem, a atriz consegue passar com maestria o paradoxo que a personagem se insere, cercada de vários parceiros sexuais com diferentes personalidades e fenótipos que apenas aumenta seu vazio existencial aumentado pelo seu vício sexual. Destaque-se também as atuações de Shia LaBeouf que faz com propriedade o papel de Jêrame e a química cênica encontrada entre os atores Charlotte Gainsbourg (Joe mais velha) e Stellan Skarsgård (Seligman) no relato da história da personagem principal. Uma Thurman que vive a Sra. H no capítulo totalmente dedicado a sua personagem, percebe-se a beleza trágica e ao mesmo tempo cômica que a cena necessita e que Uma Thurman nos presenteia com uma atuação concisa e bela, proporcionando ao espectador sorrisos exacerbados misturados ao desconforto que lhe é aplicado.

O roteiro é um aspecto interessante nos filmes de Lars Von Trier. Nesta obra ele continua com estrutura narrativa aplicada em outros grandes longas do diretor como “Dogville” e “Anticristo”. Dividindo-o em oito capítulos (no primeiro volume é mostrado cinco partes desse diário fílmico) onde mostra o inicio dos desejos e aventuras sexuais e o amadurecimento do vício de Joe, intercalando-se sempre com algum signo ou aspecto do personagem Seligman, principalmente a polifonia apresentada por Joe no quinto capitulo. Os aspectos técnicos do filme muito fogem da ideologia do Dogma 95 tornando o filme mais digestivo comercialmente que pouco lhe escapa na concepção narrativa.

A direção sofisticada de Lars Von Trier que confronta o espectador a partir de elementos eruditos e populares como na trilha sonora do rock industrial da banda alemã Rammstein's e sua menção por Back, na sua fotografia preta e branca no quarto capitulo contrastando com as cenas de sexo que se ocorrem e por mostrar mesmo que censurada as relações sexuais explicitas.


Digo o filme de Lars Von Trier não é para voyeuristas que procuram pornografia ou erotismo. É um sexo pouco prazeroso, por vezes constrangedor e sobre tudo provocante. As facetas pela busca do prazer na sociedade contemporânea são simplificadas nesta primeira, mas incompleta parte do filme e pelo que foi mostrado nos créditos finais mais desconforto veem por ai.


NOTA: 8,0


FICHA TÉCNICA

Nome Original: Nymphomainaca: Volume 1
Direção: Lars Von Trier
Roteiro: Lars Von Trier
Gênero: Drama/erótico
Origem: Dinamarca
Duração 122 minutos
Ano: 2013

Trailer Legendado